Pular para o conteúdo principal

‘Minha origem, também’: um olhar em primeira mão do disco “Wedding Album” de John e Yoko por seu filho




“Eu não sei mais o que dar de presente para minha mãe. Eu já dei para ela diversos suéteres e chapéus, ” diz Sean Lennon com um sorriso, durante uma conversa sobre o box comemorativo de 50 anos do disco “Wedding Album” de John Lennon e Yoko Ono – que chega às lojas nesta semana pelas gravadoras Secretly Canadian e Chimera Music. “Então, remasterizar todos os álbuns dela e lança-los é o presente mais amoroso que eu poderia dar para ela. ”

Sean está mais ou menos brincando quando atribui a extensa campanha de relançamento de Yoko Ono, que começou em 2016, para uma falta de habilidade em escolher presentes. Mas ele está apenas brincando em parte. Seu sorriso rapidamente se transforma em pura efervescência assim que ele conta a real troca. “Quando eu entreguei para ela o pacote das prensagens, eu nunca vi ela reagir por um presente daquele jeito” ele sorriu. “É o primeiro presente que eu dei para ela em que ela ficou visivelmente tocada. Você conseguia ver nos olhos dela. ”

As reedições são claramente um trabalho de amor do único filho de John e Yoko, e a nova edição do seu experimental “Wedding Album” é um exemplo primoroso. A edição de 1969 era além da extravagância, com itens como a cópia do certificado de matrimonio deles, seu próprio pedaço de bolo (em foto, claro), e notas da imprensa entre as coisas efêmeras. A reedição – evidenciada por um olhar em primeira mão no vídeo abaixo – recria praticamente todos os aspectos do original.



Foi preciso muito esforço para acertar, mas isso era algo crucial para Sean. Qualquer coisa diferente iria trair a real intenção do disco. “Eles não tiveram um casamento de verdade. Dessa forma, a festa de noivado é essa “coisa” que nós podemos apreciar. É um jeito de participar do casamento e do amor deles. ”

Ele adiciona, “É legal que o momento foi preservado, e nós tentamos focar nos detalhes para recriar toda a arte da capa, o que obviamente não foi fácil. Incluindo todos aqueles itens, acho que foi um ponto de ruptura para as embalagens de discos. Foi difícil recriar e fazer parecer com o original. Parece como uma celebração do amor e vida de ambos. ”

Enquanto “Wedding Album” não é exatamente algo misterioso para Sean, remasterizar o disco lhe deu uma compreensão mais profunda da celebração dos pais. “Para ser honesto, eu nunca gastei muito do meu tempo escutando (a série “Unfinished Music”) ”, ele admite sobre a trilogia experimental de seus pais no fim dos anos sessenta, que inclui “Two Virgins” e “Life With The Lions”. “É uma música selvagem, cara. Por um lado, “Wedding Album” apenas me mostrou como eles eram doces, sabe? Eles eram tão fofos, apenas curtindo a noite toda fazendo sons estranhos e instáveis. Você consegue dizer que eles estão curtindo, que é coisa que eu mais gosto. ”

Em sua visão, a experiência é tão cativante que transcende a história especificamente de John e Yoko. “Apenas se parece com uma pequena fotografia do que se apaixonar realmente é – amor verdadeiro. Eles são tão inocentes e inspiram um ao outro em explorar completamente novos territórios. E é isso, certo? ” argumenta o vocalista do Ghost Of The Saber Tooth Tiger. Após uma breve pausa, você praticamente pode escutar a lâmpada acima da sua cabeça aparecer. “O que mais é amor do que ser inspirado em explorar novas coisas e fazer isso de uma forma infantil? ”

Enquanto essas verdades universais são importantes para Sean, seu intenso apegamento pessoal com “Wedding Album” é ainda o centro da discussão desse projeto. “Foi isso que levou a minha existência. O álbum é basicamente a minha origem, também, não é? ” ele sorri. “Eu estou muito orgulhoso de ser parte disso (da reedição). ”

No fim do dia, ele é dirigido por essa conexão visceral para sua mãe e o falecido pai como pais, não como músicos famosos. “Eu me sinto como um bom filho por ter feito isso. Me faz sentir como – como um bom garoto. O que mais eu poderia ter feito para agradecer do que remasterizar a música que você criou para mim e garantir de que tudo está bem organizado, e então dar para as pessoas a oportunidade de reviver isso? ”

*tradução da matéria publicada em 21/03/2019 no portal “Discogs Blog”.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Dicas de quarentena #147: Lô Borges tocando disco do tênis na íntegra!

  Lô Borges foi um dos principais nomes que surgiram por conta do disco Clube da Esquina de 1972. Seu autointitulado álbum de estreia, mais conhecido como “disco de tênis”, é considerado por muitos críticos e fãs com um dos grandes álbuns da história da nossa música. Em 2018, Lô reuniu uma banda de primeira para recriar esse trabalho ao vivo. Abaixo você confere o show que rolou no icônico Circo Voador e que gerou o DVD “Tênis + Clube - Ao Vivo no Circo Voador":

Muito Sexo, muitas drogas e muito, mas muito Rock 'n' Roll na Netflix

Em maio de 2001 foi lançada uma das melhores e mais aguardadas autobiografias sobre uma banda de rock. Em mais de 400 páginas, “The Dirt: Confessions of the World's Most Notorious Rock Band” conta, através da visão de Tommy Lee, Mick Mars, Vince Neil e Nikki Sixx, a história de uma das bandas mais insanas dos anos oitenta, o Mötley Crüe. O sexo, as drogas, as brigas, as prisões, o sucesso, a decadência, tudo está nessa obra que é extremamente bem-acabada graficamente.     O papo para tornar todas essas páginas em filme começou em 2006, quando a Paramount e a MTV adquiriram os direitos para a adaptação nas telonas. Porém as coisas enfriaram e, com o fim da banda (será?!) em 2015, os rumores de que a história da banda poderia de uma vez por todas ser lançada voltou à tona. Com o sucesso no ano passado de “Bohemian Rhapsody”, o filme que conta a vida do Queen, a plataforma digital de streaming de filmes e séries Netflix lançou no dia 22 de março “The Dirt”, dirigido...

Já escutou? #4 The Black Crowes - Shake Your Money Maker (1990)

Os anos noventa ficaram marcados principalmente pelo grunge de Seattle. Nirvana e companhia dominaram as paradas de sucesso, principalmente na primeira metade da década. Porém uma banda da região sudeste dos Estados Unidos, mais precisamente no estado da Geórgia, conseguiu fazer sucesso, mas que sonoramente não tinha nada a ver com esses grupos. Formado principalmente pelos irmãos Robinson, Chris e Rich, The Black Crowes surgiu nos anos oitenta, porém com o nome de Mr. Crowe's Garden. Já com o baterista Steve Gorman na formação, o grupo mudou seu nome para aquele que os tornaria uma das grandes bandas americanas das últimas três décadas. Com oito discos de estúdio na carreira, a banda fez sucesso por conta do seu som mais voltado para um rock clássico, com uma pegada mais Rolling Stones do que seus contemporâneos de Seattle. No dia de hoje, o primeiro lançamento dos caras, Shake Your Money Maker , completa 30 anos. As gravações para o álbum começaram no verão de 1989...