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Um colosso do jazz moderno em São Paulo



Paul McCartney é um colosso? Sim, sem sombra de dúvidas. Provavelmente um dos maiores músicos que eu já vi ao vivo. Arrepio só de lembrar daquele 25 de novembro de 2014. O medley final do disco “Abbey Road” me emociona até hoje e me levou às lágrimas naquele dia. Lindo.
Mas eu não vou puxar o saco do Paul aqui hoje, apesar de que ele sempre merece uma “babação” de ovo de leve, mas sim de outro colosso que estava fazendo show em São Paulo bem pertinho de onde o eterno Beatle estava tocando na última semana.
Seu nome? Kamasi Washington.
Mas que diabos é esse cara?
Kamasi nasceu em Los Angeles, Califórnia, em 1981. Já desde pequeno o jazz corre em suas veias. Seu pai também é músico.
Suas influências vão desde o óbvio John Coltrane, passando pelo rap visceral do N.W.A., até o russo Igor Stravinsky. Toda essa mistura é palpável no som que tornou o californiano famoso. Sua participação no perfeito “To Pimp a Butterfly” do rapper Kendrick Lamar e seu primeiro disco “The Epic” de 2015, o fizeram, segundo a mídia, a “salvação do jazz”, algo que ele refuta em entrevistas.



Em turnê pela América do Sul para divulgar seu último trabalho, “Heaven and Earth”, lançado no ano passado e considerado pela crítica como um dos melhores discos que saíram em 2018, Kamasi teve encontro marcado com os fãs paulistas na última quarta (27) na região da Barra Funda.
Com os ingressos quase esgotados, filas podiam ser vistas na frente do Audio Club pouco antes do horário marcado para o início do show (22h30). Para não passar batido sobre o assunto, vale a pena fazer uma crítica para a casa e a produtora/plataforma Queremos!.
Haviam duas filas para a entrada do público. Uma para o pessoal da pista, que estava muito tranquilo o acesso, e a outra, que estava conturbada a entrada, para pré-venda, VIPs e camarote. A minha crítica vem do fato que muitos que compraram o ingresso na pré-venda para ir de pista, meu caso, tiveram que ficar na fila por quarenta minutos até conseguir entrar no Audio, demora que não ocorreu para quem tinha comprado o ingresso na hora do show e para ir no mesmo setor.
Mas voltando ao show do impressionante Kamasi Washington.
Sim, impressionante. Foram quase duas horas da melhor música que existe no planeta atualmente. Esqueça a reunião da Sandy e Junior, Rock In Rio, Lollapalooza, aqui temos um forte candidato a melhor show de 2018 em terras tupiniquins.
Vou explicar.



A música que esse saxofonista de quase quarenta anos produz é algo totalmente fresco. Ele consegue misturar jazz de alta qualidade, com o melhor do hip hop e dos ritmos caribenhos. É impossível não se contagiar com o som dele. Impossível! Além disso, sua altura avantajada e sua presença o fazem um dos caras mais boa praça da música atual. Ponto para ele.
A banda que o acompanha também é algo de outro mundo. Dois bateristas, um contrabaixo acústico, uma cantora de apoio (que voz!), um tecladista (também nos vocais de apoio) e um cara no trompete. Que banda azeitada. É muito fácil perceber que um sabe o que o outro vai fazer. Sincronia é a palavra para definir a mágica deles. O humilde Washington deixou todos do grupo terem os seus 15 minutos de fama. Ficou de lado só acompanhando a turma brilhar. Sem ego, apenas amor pela boa música.
Seu repertorio contou com oito músicas, focando principalmente no novo trabalho. Parece pouco, amiguinho? Que nada. O som de Kamasi é algo épico, portanto é muito comum que cada uma de suas músicas fique entre os 10 e 20 minutos de duração. Ele não está para brincadeira, isso eu posso te garantir.




Com quase duas horas de show, o saxofonista terminou sua apresentação com “Re Run” do triplo “The Epic” e com muitas declarações de amor para o público paulista e brasileiro. Foi uma missa de arrepiar. Tenho certeza que apesar das dores no meu pé, que me incomodavam bastante quando o relógio já marcava uma hora da matina, eu teria ficado o tempo que fosse escutando esse colosso do jazz tocar. Foi algo transcendental.
Kamasi é um daqueles raros artistas que você fica sempre esperando entusiasmado para ver para que lugar ele vai. Que som novo ele pode produzir. Que coelho ele pode tirar da cartola. Muito parecido com Paul McCartney que eu citei no início do texto. Assim como naquela noite de novembro de 2014 na Pompeia, essa noite de março eu irei sempre lembrar com carinho.
Muito obrigado, Kamasi Washington.

Fotos: página oficial no Facebook do Queremos!


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