A
matéria abaixo foi escrita por Stephanie Garr e publicada no portal Spin.com em
2 de maio de 2017
Uma
assustadora pergunta existencial reside no fundo da psique de todo fã de
Radiohead: Como música contemporânea soaria se a banda nunca tivesse existido?
Inicialmente rotulado como apenas mais uma banda grunge-pop de um único hit, o
quinteto de Oxford liderado por Thom Yorke iria desmantelar o rock de guitarra
tradicional, abraçando ideias desde música clássica de vanguarda, eletrônica,
jazz e comunidades world music. Com o passar do tempo, a visão deles de uma
distopia tecnológica sob cerco iria servir como uma das representações
artísticas da vida moderna. Por ter tido um começo tão humilde, isso é o que
faz com que suas contribuições do Radiohead sejam muito mais atraentes. Antes
do lançamento da versão deluxe de “OK Computer”, traçamos a evolução de uma das
bandas mais importantes da galáxia.
Drill EP (1992)
O
primeiro lançamento do Radiohead é feito de quatro demos bagunçadas que emula
os Pixies como um bando de estudantes britânicos mal-humorados. Thom Yorke
descobre seu definitivo lamento em “Prove Yourself”, gemendo repetidamente. “I’m
better off dead, ” como a banda trabalha guitarras entortadas em um frenesi.
Enquanto isso, suas habilidades com baladas (e aversão a carros) já estão
começando a se formar no retrato angustiante “Stupid Car. ”
Melhor
momento do álbum: “Prove Yourself”
Pablo Honey (1993)
Mais
importante, o disco de estreia do Radiohead deu para eles uma plataforma. Três
faixas do EP “Drill” ficam mais limpas aqui, e o seu rock grunge para grandes
arenas, mas é a faixa número dois que atinge a geração X onde mais dói. O hino
solitário “Creep” ainda fala com o adolescente desencantado em todos nós, com o
lamento de Thom Yorke cortando riffs distorcidos como um farol no nevoeiro. Em
outro lugar, traços da futura experimentação vislumbram no barulho Sonic Youth
em “Anyone Can Play Guitar” e na fusão dreamy lounge-pop de “Blow Out. ”
Melhor
momento do álbum: “Creep”
My Iron Lung EP (1994)
Esse
EP de outtakes do até então não lançado segundo disco captura a banda no limbo
estranho de achar sucesso e imediatamente temendo-o. A faixa título se contorce
e contorce em uma bagunça de guitarras que quase alcança o status de metal
pesado após Yorke professar cinicamente “This is our new song/ Just like the
last one. ” Mais tarde, “Punchdrunk Lovesick Singalong” treme em um ritmo
narcótico, mostrando os primeiros estágios da metamorfose do Radiohead em
escultores refinados de ambientes fantasmagóricos.
Melhor
momento do álbum: “My Iron Lung”
The Bends (1995)
Já no
disco número dois, você pode parar de chamar o Radiohead de banda de art-rock.
Camadas ricas de cordas de aranha são guiadas por Jonny Greenwood, cujos
movimentos são ambos intrinsicamente refinados e imprevisivelmente primais. “Fake
Plastic Trees” soa como U2, a não ser que seja mais estranho quando colocado
sobre o encanto das letras enigmáticas de Yorke e seus uivos. A faixa que
encerra o disco, “Street Spirit (Fade Out)”, sugere o que está por vir, seu
arpejo hipnotizante deslizando sedutoramente em um abismo escuro. (Leia a
resenha original de “The Bens” por Chuck Eddy’s para a Spin)
Melhor
momento do álbum: “Fake Plastic Trees”
“Street Spirit (Fade Out)” Single (1996)
Alimentado
pela balada mais potente de “The Bend”, o lançamento desse single é
indiscutivelmente mais essencial devido a alguns lados B chave. “Talk Show
Host” chia atrás de quatro notas ameaçadoras enquanto se arrasta ao longo de
uma batida trip-hop. Eles então rasgam um feedback retorcido em “Banana Co.” e
selam com um toque de Beatles.
Melhor
momento do álbum: “Talk Show Host”
OK Computer (1997)
No álbum mais celebrado da
banda, Yorke direciona sua angustia interior para fora e banda segue o exemplo,
esmagando influencias musicais como átomos a serviço de expressar a angustia
pré-Y2K. Os Beatles continuam uma inspiração proeminente – pelo menos as
provocações mais estranhas de Lennon – como enxames de guitarras e camadas de
distorção atonal e barulho ambiente canalizam nossos medos coletivos mais
sombrios. O confuso choro de Yorke e a guitarra em arpejo de Greenwood se
enroscam, trabalhando com uma corda que une elementos de jazz de vanguarda,
eletrônico, trip-hop e música clássica. (leia a resenha original de Barry Walter
de “OK Computer” para a Spin)
Melhor
momento do álbum: “Paranoid Android”
Airbag / How Am I Driving? EP (1998)
Os
lados B de “OK Computer” mostram a banda começando a se distanciar do rock – e
talvez até da Terra. Há uma presciência estranha na punk “Palo Alto, ” escrita
antes do Facebook ser um brilho nos olhos de Zuckerberg: “In a city of the
future/ It is difficult to concentrate, ” Yorke maliciosamente entoa. O
escaldante Rhodes de “A Reminder” se torna um claustrofóbico drone que
destacaria boas partes do próximo disco “Kid A”, enquanto “Melatonin” acalma pré-milenares
bebês para dormir em um cobertor de sintetizadores.
Melhor
momento do álbum: “Palo Alto”
Kid A (2000)
O
único jeito lógico do Radiohead conseguir superar “OK Computer” era destruir
completamente qualquer semelhança com ele – e de desaparecer por completo,
assim como Yorke coloca na faixa número quatro. Armado de instrumentos
eletrônicos arcaicos como um Ondas Martenot, samples de música antiga de
computadores, e uma formidável coleção de discos da Warp Records – ecos de
Aphex Twin, Squarepusher, e Autechre podem ser escutados aqui – Radiohead
captura o mal-estar social e alienação alienando-se. Os vocais de Yorke parecem
ser transmitidos de um país próximo, olhando para a vida humana com tristeza e
dor. Nada expressa tensão pré-milenar melhor do que a arrepiante e esquisita
“Idioteque. ” (Leia a resenha original de “Kid A” escrita por Simon Reynold
para a Spin)
Melhor
momento do álbum: “Idioteque”
Amnesiac (2001)
Gravado
durante as sessões de “Kid A”, o quinto disco oficial do Radiohead tilinta e
faz barulho, geme e lateja da mesma forma, porém existe um grande senso de medo
e urgência aqui. As guitarras irrequietas e inquietas entremeadas em “Knives
Out”; o sinistro piano batendo em “Pyramid Song”; os resmungos letárgicos de
Yorke explodem em um uivo estrondoso em ““You and Whose Army? ” – É como se a
banda estivesse preparando a gente para um evento que fosse alterar o mundo.
(Leia a resenha original de “Amnesiac” escrita por Sasha Frere-Jones para a
Spin)
Melhor
momento do álbum: “Pyramid Song”
I Might Be Wrong: Live Recordings (2001)
Antes
que esquecemos que o Radiohead é de fato uma banda completa com, tipo,
guitarras, bateria e tudo mais, eles nos dão um gostinho de como ao vivo seu
show funciona com algumas peças mais exigentes de “Kid A” e “Amnesiac”. Tudo
vem menos polido do que nas gravações, nos lembrando de suas raízes formidáveis
no rock. A faixa que encerra, “True Love Waits” é uma balada solitária
acústica, favorita ao vivo desde 1995 e uma música que continua envolvendo 15
anos depois do seu lançamento.
Melhor
momento do álbum: “True Love Waits”
Hail to the Thief (2003)
Pós
11 de setembro, existe definitivamente um diferente tipo de terror à espreita
dentro da consciência coletiva – o bastante para inspirar o Radiohead trazer de
volta um rock cru e climático. A guitarra de Greenwood lança alguns dos seus
efeitos e a composição de Yorke é mais direta, também, apontando para políticos
e religião com um fervor Orwelliano. Eletrônicos cintilantes e drones
rastejantes ainda fervem embaixo, apenas o suficiente para adicionar uma camada
extra de escuridão. (Leia a resenha original de “Hail to the Thief” escrita por
Will Hermes para a Spin)
Melhor
momento do álbum: “There There”
COM LAG (2plus2isfive) EP (2004)
Essa
coleção em ruinas de lados B, faixas ao vivo e remixes brilha principalmente em
seus experimentos mais esquisitos. Os remendos IDM de Yorke começam a invadir
seu caminho com remixes de Four Tet e Cristian Vogel, o último jogando a faixa “Myxomatosis”
de “Hail to the Thief” em uma lata e sacudindo-o ao esquecimento. “Paperbag
Writer, ” que usa uma linha de baixo e cordas deslizando, desenrola como um
esboço para o próximo disco “The King of Limbs”.
Melhor
momento do álbum: “Paperbag Writer”
In Rainbows (2007)
O
Radiohead evitou com sucesso o intermediário nesse lançamento “pague o quanto
quiser” e um inferno se fez na indústria da música. Na época, essa inteligente
jogada acabou ofuscando o que pode ser o mais coeso e romântico disco deles até
hoje. O eletrônico gelado de “Kid A” e “Amnesiac” começa a virar líquido aqui –
em sulcos de guitarra como “Bodysnatchers” – antes que tudo flua como lava em
músicas mal-humoradas de amor que borbulham pelo falsete falso de Yorke. (Leia
a resenha original de “In Rainbows” escrita por Mikael Woods para a Spin)
Melhor
momento do álbum: “Bodysnatchers”
In Rainbows Disk 2 (2007)
Alguns
dos outtakes de “In Rainbows” poderiam facilmente ter entrado no disco: o
chiado, devaneio etéreo de “Go Slowly”; a elegia despojada do piano em “Last
Flowers”; o pesadelo barulhento de “4 Minute Warning. ” Outros – como o groovy,
glitchy de “Down Is the New Up” – soam como esboços lúdicos para o que se
tornaria “The King of Limbs”.
Melhor
momento do álbum: “4 Minute Warning”
The King of Limbs (2011)
As
quentes e espaçosas melodias de “In Rainbows” colidem com loops, samples e
ritmos sincopados no disco número oito. Aqueles que lamentaram a falta de
guitarras no álbum não estavam escutando o suficiente – elas foram apenas suavizadas
e assadas mais fundo, depois incrustadas em batidas quebradas. Os grooves escorregadios
chegam ao clímax em “Lotus Flower” – que só é superada pelos membros agitados
de Yorke em seu hipnotizante vídeo – antes de escorregar para os ecos de “Give
Up the Ghost,” que une seus truques digitais com beleza emocional e crueza. (Leia
a resenha original de “The King of Limbs” escrita por Chris Martins para a
Spin)
Melhor
momento do álbum: “Lotus Flower”
TKOL RMX 1234567 (2011)
As
infusões eletrônicas de “The King of Limbs” oferecem um excelente modelo para
remixes de todas as cores. Então aqui
você tem trechos fantasmagóricos de Yorke deslizando através de batidas mínimas
e cintilantes de Caribou, e depois flutuando nos drones infinitos do Four Tet –
embora nada seja tão gélido quanto os originais.
Melhor
momento do álbum: “Separator” (Four Tet Remix)
A Moon Shaped Pool (2016)
“Me acorde,
” canta Yorke sonhadoramente no fim de “The King of Limbs”. E, cinco anos
depois, o Radiohead soa acordado, até mesmo iluminado, em “A Moon Shaped Pool”
com duas faixas antigas e preenchendo o resto com intricadas paisagens assombrosas
e distópicas como em “Kid A”, apenas mais...humano. Os arranjos de cordas e
corais de Jonny Greenwood envolvem tudo em uma rica capa protetora até Yorke se
desfaça completamente dela – mais do que nunca – para encontrar um novo significado
em sua canção de décadas, “True Love Waits. ” (Leia a resenha original de “A
Moon Shaped Pool” escrita por Raymond Cummings para a Spin)
Melhor
momento do álbum: “Burn the Witch”
Matéria
original: https://www.spin.com/2017/05/radiohead-albums-definitive-user-guide/
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