Pular para o conteúdo principal

O lado instigado da lua na Virada Cultural




Todo fã que se preze do Pink Floyd conhece a história de que o disco The Dark Side of The Moon (1973) tocado simultaneamente com o filme O Mágico de Oz (1939) se encaixam em diversos momentos, seja pelas letras das músicas ou pela sincronia audiovisual. Aqueles que já fizeram a experiência sabem que isso é verdade e não mito. Segundo os integrantes da banda, nada disso foi proposital. De acordo com o baterista da banda Nick Mason, “algum cara com muito tempo livre teve essa ideia de combinar os dois. ”

Apesar de não ter sido proposital, a coincidência é muito surreal. Não é preciso de uma “ajudinha química” para perceber a sincronia quando Dorothy balança em cima do muro e o verso de “Breathe” canta “balançando na maior onda. ”



Mas por qual diabos isso tem a ver com a Virada Cultural que ocorreu em São Paulo entre os dias 18 e 19 de maio?

Como parte da programação, a banda de Fortaleza Cidadão Instigado executou no domingo (19) o repertorio do disco com a exibição do filme simultaneamente, exatamente como a história que eu contei no primeiro parágrafo. Foram duas sessões com ingressos muito concorridos. Eu tive a sorte de estar presente na segunda apresentação e foi algo extremamente especial.

Para quem não conhece o Cidadão Instigado, o grupo de rock foi formado em 1996 na capital do Ceará. Com cinco discos nas costas, sendo o último Fortaleza de 2015, Fernando Catatau é o principal nome do time. Atualmente também a banda conta com Regis Damasceno (guitarra/guitarra synth e vocal), Clayton Martin (bateria), Dustan Gallas (teclados e vocal), Rian Batista (baixo, sampler e vocal). Nas apresentações da Virada, Alex Cruz Vasconselos no saxofone e Nayra Costa no vocal, acompanharam o grupo.



Com o teatro do Sesc 24 de Maio lotado, a segunda apresentação começou um pouco após as 18 horas do domingo. Como provavelmente o The Dark Side of The Moon seria um dos discos que eu levaria para uma ilha deserta, eu estava com a expectativa bem alta se a banda daria conta de executar esse clássico, ainda mais com o filme sendo reproduzido ao fundo. E, felizmente, a minha expectativa foi atendida. O Cidadão Instigado conseguiu fielmente reproduzir o álbum.

Que banda, caro leitor.

Não é para qualquer um emular um dos discos mais icônicos de todos os tempos. Minha mãe, que não é muito ligada em música, sabe que a capa com um prisma sendo atingido por um feixe de luz e se transformando em um arco-íris tem relação com o Pink Floyd.




Todos foram excelentes, Clayton detonou na bateria, assim como Rian emulou com precisão as linhas de baixo de Roger Waters, porém eu quero fazer uma menção muito especial para o Fernando Catatau. O cara me surpreendeu muito ao reproduzir com fidelidade a guitarra ímpar do David Gilmour. O inglês de 73 anos de idade foi o sujeito que eu presenciei tocar mais guitarra em toda a minha vida. Aconteceu no segundo show que ele fez no estádio do Palmeiras em 2015. Na ocasião ele estava divulgando o disco Rattle That Lock (2015) e ele desembarcava por terras tupiniquins pela primeira vez. Portanto, eu tenho um carinho muito grande por ele e Catatau emulando sua guitarra foi algo transcendental.

De lambuja, o Cidadão ainda tocou ao fim da apresentação mais duas músicas do Pink Floyd, a primeira parte de “Echoes”, em seguida “Have A Cigar” e para finalizar a parte final de “Echoes”. Foi uma noite muito especial. Espero que algum dia eu possa presenciar o grupo repetir a dose. Os meus parabéns para eles, para a Virada e para o Sesc. I'll see you on the dark side of the moon!



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Muito Sexo, muitas drogas e muito, mas muito Rock 'n' Roll na Netflix

Em maio de 2001 foi lançada uma das melhores e mais aguardadas autobiografias sobre uma banda de rock. Em mais de 400 páginas, “The Dirt: Confessions of the World's Most Notorious Rock Band” conta, através da visão de Tommy Lee, Mick Mars, Vince Neil e Nikki Sixx, a história de uma das bandas mais insanas dos anos oitenta, o Mötley Crüe. O sexo, as drogas, as brigas, as prisões, o sucesso, a decadência, tudo está nessa obra que é extremamente bem-acabada graficamente.     O papo para tornar todas essas páginas em filme começou em 2006, quando a Paramount e a MTV adquiriram os direitos para a adaptação nas telonas. Porém as coisas enfriaram e, com o fim da banda (será?!) em 2015, os rumores de que a história da banda poderia de uma vez por todas ser lançada voltou à tona. Com o sucesso no ano passado de “Bohemian Rhapsody”, o filme que conta a vida do Queen, a plataforma digital de streaming de filmes e séries Netflix lançou no dia 22 de março “The Dirt”, dirigido por

Como Henry Rollins entrou para o Black Flag

  O trecho abaixo foi retirado do livro “Get in the Van” escrito por Henry Rollins e lançado em 1994. Como o livro não tem uma tradução para o português, as linhas abaixo foram traduzidas de forma livre por mim. Espero que gostem.   Primavera (1981): Eu estava vivendo em um apartamento em Arlington, Virginia, bem perto de Washington, DC. Eu trabalhava numa sorveteria e caminhava até o meu trabalho todos os dias. Eu era o gerente da loja e trabalhava lá entre 40 e 60 horas por semana fazendo os depósitos, contratando, despedindo, fazendo inventário, servindo sorvete, etc. Eu estava numa banda naquela época. Nada muito musical. Quatro de nós com um equipamento de merda, mas a gente se divertia tocando e ensaiando. Um cara chamado Mitch Parker deu para mim e para o meu amigo Ian MacKaye uma cópia do EP do Black Flag Nervous Breakdown . Nós tocámos ele o tempo todo. Era pesado. A arte da capa dizia tudo. Um cara com as costas para a parede erguendo os punhos. De frente para ele ou

Dicas de quarentena #147: Lô Borges tocando disco do tênis na íntegra!

  Lô Borges foi um dos principais nomes que surgiram por conta do disco Clube da Esquina de 1972. Seu autointitulado álbum de estreia, mais conhecido como “disco de tênis”, é considerado por muitos críticos e fãs com um dos grandes álbuns da história da nossa música. Em 2018, Lô reuniu uma banda de primeira para recriar esse trabalho ao vivo. Abaixo você confere o show que rolou no icônico Circo Voador e que gerou o DVD “Tênis + Clube - Ao Vivo no Circo Voador":