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Marcos Valle em noite de Previsão do Tempo



No ano de 1973 o cantor, compositor, instrumentista e arranjador Marcos Valle lançou um dos discos mais cultuados de sua carreira, Previsão do Tempo. Para quem não conhece a carreira do carioca de 75 anos, ele surgiu no começo dos anos sessenta numa nova geração da bossa nova. Porém, no começo dos anos setenta ele começou a se afastar do banquinho e violão e enveredou para uma linha mais experimental. O disco de 1972, Vento Sul, gravado com a banda de rock progressivo O Terço, mostra bem essa nova direção.

Influenciado pela música norte americana, cheia de soul, funk, jazz, e ao lado de um dos melhores conjuntos instrumentais do nosso país, o Azymuth, Valle em Previsão do Tempo quis também inserir no trabalho o momento político que o pais atravessava, a ditadura militar. Já com a capa, ele imerso numa piscina, o recado é evidente. Outro exemplo é a música que abre o trabalho, “Flamengo até Morrer”. Ela não é simplesmente uma exaltação ao clube mais popular do Brasil, já que o artista é botafoguense, e sim uma ironia sobre a acomodação do brasileiro, enquanto existir o futebol para distrair, tudo está bem.

Mais de 40 anos após o lançamento original, a empresa Polysom reeditou esse clássico em vinil. Para celebrar o lançamento, Marcos Valle realizou dois shows no teatro do Sesc Pompeia apresentando essa obra de arte na íntegra! Com os ingressos concorridos para os dois shows, sábado (20) e domingo (21), eu tive o privilégio de assistir a segunda apresentação e digo uma coisa caro leitor, foi um dos melhores shows que eu vi até agora neste ano, tanto nacional como internacional.




Com uma banda cheia de ritmo, funk e samba, Valle começou o evento com a canção que dá nome ao disco, apesar dela originalmente ser apenas a quinta faixa do álbum. Após isso ele seguiu com a ordem original de Previsão do Tempo. Mesmo com décadas de carreira, Valle continua com uma voz impecável e tocando muito bem, diga-se de passagem, já diria o poeta. O carioca é sem sombra de dúvidas um dos maiores músicos do nosso tempo, se ele fosse inglês eu tenho certeza que estaria dando show no Royal Albert Hall de Londres, uma das casas de show mais clássicas em todo o planeta, porém aqui no Brasil...

Para encerrar o show, Valle ainda mandou mais cinco músicas, duas do disco que eu citei no primeiro parágrafo, Vento Sul, e duas de Mustang côr de Sangue (1969), para depois surgir no palco e encerrar com “Bodas de Sangue”, canção que já foi usada como sample pelos rappers norte-americanos Jay-Z e Kanye West.

Que noite meus amigos!

Quero fazer um destaque especial para a banda que estava acompanhando o músico, principalmente para o Donatinho, filho do grande João Donato, que abusou dos sintetizadores e dos teclados, reproduzindo com perfeição o som do saudoso José Roberto Bertrami, tecladista do Azymuth.

Apesar de Valle ter lançado esse álbum nos anos setenta, com a ditadura militar reprimindo com braço forte aqueles que não concordavam com o governo, é curioso saber que hoje atravessamos um momento político no país muito parecido com aquele em que ele gravou Previsão do Tempo. Com isso, acho que o show que se tornou muito mais especial e simbólico para aqueles que estavam presentes no Sesc Pompeia nesse final de semana e principalmente para o artista.



*fotos retiradas do facebook do Sesc Pompeia.

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