Para quem conhece um pouco da
história da música, o marco inicial do movimento punk foi na segunda metade dos
anos setenta. Já em terras tupiniquins, muito antes da “era das redes antissociais”,
os primeiros discos de punk começaram a chegar no fim daquela década e no
começo dos anos oitenta.
Quando Johnny Rotten estava
moldando o som do pós-punk com o PIL (Public Image Ltd.), uma molecada por aqui
estava descobrindo a estreia da sua antiga banda, os Sex Pistols.
Existe uma discussão onde o
movimento punk começou aqui no Brasil. Alguns dizem em Brasília, outros dizem
na periferia de São Paulo. O único consenso é que o primeiro disco de uma banda
punk foi lançado em 1984 pelo Ratos de Porão.
Este ano Crucificados pelo Sistema completa nada mais, nada menos do que 35
anos.
Formado em 1981, o Ratos
entraria em estúdio na rua Augusta com João Gordo nos vocais, Jão na bateria,
Jabá no baixo e Mingau na guitarra para gravar a estreia da banda. Um marco na
história do punk mundial.
Com menos do que 20 minutos
de pura agressividade juvenil e letras de um alto grau de realidade social
brasileira, ele foi lançado pela Punk Rock Discos em uma época em que os
engenheiros de som estavam acostumados a gravar MPB. Guitarra distorcida era
algo de outro planeta.
Sim, o disco é tosco e mal
gravado, porém isso também o faz uma obra de arte da música nacional. É uma
marca de uma época.
Composto por 16 músicas, o
Ratos já mostrava um dom para gravar músicas de contestação social e que
continuam atuais. Como não olhar as ruas do centro de São Paulo e das grandes
capitais e não se lembrar de “Pobreza” (“olhe a pobreza desse mundo desumano”).
Ou o jeito violento que muitas vezes as forças policiais utilizam contra os
cidadãos e não pensar no hino “Agressão/Repressão” (“é preciso mudar o sistema
policial porque eles estão matando a pau gente inocente”).
O som é claramente
influenciado pelas bandas de fora. São quatro moleques tentando ser tão rápidos
e agressivos quando o Minor Threat de Ian Mackaye. A guitarra suja é algo lindo
de se ouvir!
A formação que gravou o Crucificados iria durar apenas esse
disco. Com a saída de Mingau, Jão sairia dos fundos para assumir a guitarra e o
Ratos iria seguir uma linha mais metal, crossover, nos próximos anos. Isso iria
até gerar um estigma que dura até hoje, na minha opinião injusta, de traidores
do movimento. Mas isso é papo para uma outra hora.
O que importa é que Crucificados pelo Sistema continua um
disco incrível e que influenciou diversas bandas no Brasil e no mundo. Vale a
pena dar uma olhada no DVD lançado em 2014 em que os quatro membros que
gravaram essa tosqueira tocaram ela na íntegra no palco do Circo Voador no Rio
de Janeiro. Como João Gordo disse: “Não morreu ninguém!”
Faixas:
Lado A
1. "Morrer"
2. "Caos"
3. "Guerra
Desumana"
4.
"Agressão/Repressão"
5. "Obrigado a
Obedecer"
6. "Asas da
Vingança"
7. "Que Vergonha!"
8. "Poluição
Atômica"
Lado B
1. "Pobreza"
2. "F.M.I."
3. "Só Pensa em
Matar"
4. "Sistema de
Protesto"
5. "Não Me Importo"
6. "Periferia"
7. "Crucificados pelo
Sistema"
8. "Corrupção"
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