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A história da gravadora Blue Note em 15 discos



Neste ano o selo mais histórico do jazz completa 80 anos. Escute a música que moldou esse legado.

Port of Harlem Jazzmen, ‘Mighty Blues’ (1939)



Após escutar Meade (Lux) Lewis e Albert Ammons no histórico show ““From Spirituals to Swing” no Carnegie Hall no fim de 1938, Albert Lion se aproximou dos famosos pianistas e algumas semanas depois ele entrou em um estúdio em Nova Iorque e fiz a sua primeira gravação para a Blue Note. Lion convidou Ammons no verão de 1939, dessa vez com uma banda, para gravar algumas coisas no estilo chugging boogie-woogie que Ammons recentemente ajudou a popularizar. Batizado de “Porto of Harlem Jazzmen”, o sexteto foi o primeiro conjunto completo gravado para o selo.

Bud Powell, ‘The Amazing Bud Powell’ (1952)



Assim que o bebop se tornou a vanguarda em 1940, Lion e seu parceiro, Francis Wolff, mantiveram seus ouvidos no chão. Bud Powell, um dos inventores do bebop, liderou um quinteto cheio de estrelas na sua primeira sessão pela Blue Note, com um já impressionante Sonny Rollins, com apenas 18 anos, no saxofone tenor. Gravado em 1949, o disco foi lançado como um LP de 10 polegadas três anos depois.

‘Milt Jackson and the Thelonious Monk Quintet’ (1956)



Thelonious Monk foi um dos amigos mais próximos de Powell e contraparte musical. O estilo afiado, percussivo de tocar – e compor – havia desafiado os críticos por anos antes de Lion e Wolff darem uma chance para ele. Em 1947, eles gravaram seu primeiro material como líder, eventualmente lançado em LP como “Genius of Modern Music. ” Logo após, ele voltou para o estúdio, dessa vez com o vibrafonista Milt Jackson se juntando ao seu grupo. Embora muitos dos sons (incluindo a obra prima “Evidence”) fossem de Monk, a música foi originalmente lançada com o nome solo de Jackson. No momento em que o selo começou a colocar vinis de 12 polegadas em 1956, a estrela de Monk estava subindo, a reedição creditou tanto Monk quanto a Jackson. Esse se tornou o primeiro LP da Blue Note a ter arte na capa de Reid Miles, cujo designs nítidos se tornariam um símbolo da identidade da gravadora – e do jazz em geral.

John Coltrane, ‘Blue Train’ (1958)



O único disco de John Coltrane pela Blue Note está entre seus trabalhos mais finos. Em um movimento que era raro para outros selos, Blue Note pagou para a banda de Coltrane pelo tempo de ensaio; como resultado, o grupo cruza os desafiadores originais de Coltrane, particularmente “Lazy Bird” e “Moment’s Notice. ” Na faixa-título, um blues proclamador, seu solo tomou uma abordagem radical no ritmo e harmonia que inspirou um trabalho de jazz critico frequentemente citado, por Zita Carno no The Jazz Review, examinando suas ideias musicais pela primeira vez, e proclamando que o “comando do instrumento é quase incrível” de Coltrane.

Art Blakey and the Jazz Messengers, ‘Moanin’’ (1959)



Talvez o documento definitivo da era do hard-bop, a primeira música do álbum, escrita pelo pianista Bobby Timmons, ostenta uma melodia de chamada e resposta e o forte e teimoso swing de Art Blakey passa por baixo de um desfile de solos arrepiantes. Apesar de ter duração de nove minutos, a faixa se mostrou tão popular que o que era para ser um álbum homônimo inevitavelmente se tornou conhecido como “Moanin”.

Wayne Shorter, ‘Juju’ (1965)



Um veterano do Blakey’s Jazz Messengers (um campo de testes para músicos de hard-bop em ascendência), Wayne Shorter em 1965 era o saxofonista tenor e diretor musical para o renovado quinteto de Miles Davis. Mas em “Juju”, ele pegou emprestado a sessão rítmica de seu mentor, John Coltrane, e gravou seis de suas mais atemporais músicas de ângulo distorcido, apoiando-se fortemente na propulsão nodosa e no poder bruto da bateria de Elvin Jones.

Herbie Hancock, ‘Maiden Voyage’ (1965)



Esse álbum representa o auge do jazz modal: música que possui todos os componentes do hard-bop, mas com as harmonias mais simples, criando um senso de um senso de indeterminação e suspensão. É uma oportunidade para escutar Herbie Hancock fazer algumas de suas declarações mais inventivas como improvisador, parecendo explorar cada ângulo de cada acorde.

Cecil Taylor, ‘Unit Structures’ (1966)



No meio dos anos sessenta, a Blue Note participou da revolução do free-jazz que atravessava o mundo. Esse disco, do titã da vanguarda do piano Cecil Taylor, é uma barragem implacável, mas habilmente trabalhada de texturas e ritmos esmagados que estão sempre em processo de serem rasgados e recomeçados.

Bobbi Humphrey, ‘Blacks and Blues’ (1973)



Uma flautista e vocalista que mistura texturas de veludo e grooves sem parar, Bobbi Humphrey se tornou uma das artistas mais populares da Blue Note na era do fusion. Seu maior sucesso, “Blacks and Blues” foi totalmente composto e produzido por Larry Mizell. Ele e seu irmão Alphonso se tornaram Gamble and Huff da Blue Note Records por boa parte dos anos setenta, produzindo uma pequena safra de discos cativantes de Humphrey e do trompetista Donald Byrd.

Bobby McFerrin, ‘Spontaneous Inventions’ (1986)



Em 1986, um dos grandes virtuosos de a cappella na história dos Estados Unidos estava entre um álbum solo (“The Voice”) e um sucesso comercial iminente (“Simple Pleasures”, com o hit número um “Don’t Worry Be Happy”). Mas esse álbum ao vivo, que vai desde o carinhoso original “Thinkin’ About Your Body” até covers dos Beatles e Dizzy Gillespie, capta a incansável versatilidade de Bobby McFerrin e seu senso musical astucioso.

Geri Allen, ‘Maroons’ (1992)



A pianista germânica Geri Allen já tinha esculpido um profundo estilo de jazz pessoal quando ela gravou “Maroons”, seu segundo trabalho para a Blue Note dos quatro que ela gravou para o selo. Trabalhando com dois baixistas e dois bateristas, ela pegou o conceito modal em um terreno mais pesado, enquanto usava tons de aventureiro vanguardista.

James Hurt, ‘Dark Grooves, Mystical Rhythms’ (1999)



James Hurt estava em um grupo de talentosos jovens músicos que apareceram no fim dos anos noventa, no qual as carreiras foram atingidas pela recessão na indústria fonográfica. Ele gravou “Dark Grooves, Mystical Rhythms” após a bolha do Napster estourar e foi dispensado pela gravadora após o lançamento. Mas atualmente, esse praticamente esquecido disco parece um elo entre o jazz antigo de barril, o avant-funk globalista do coletivo M-Base (no qual Allen pertencia) e as fusões do hip-hop que estavam por vir. É também um lembrete de que a Blue Note continuava envolvida com o jazz de ponta.

Norah Jones, ‘Come Away With Me’ (2002)



O disco de estreia da Norah Jones transformou ela instantaneamente em uma sensação, e impactou profundamente a direção criativa do selo (e comercial) no novo milênio. Sua voz doce como bala de caramelo e grave como fumaça; a cintilante tapeçaria de piano e violão; as composições em cafés de Jones e seus colegas de banda – tudo isso fez com que “Come Away With Me” fosse a escolha certa para família média americana que lutava para escolher o que tocar no som do carro e vender cerca de 30 milhões de cópias (mais que qualquer disco da Blue Note antes ou depois), além de fazer com que ela fosse reverenciada no Grammy.

Jason Moran, ‘Ten’ (2010)



Um músico que resistiu a crise da indústria foi Jason Moran, pianista (e agora um artista multidisciplinar) cujo trio Bandwagon continua a ser uma das unidades mais confiáveis e maleáveis do jazz.

Ambrose Akinmusire, ‘Origami Harvest’ (2018)



O trompetista padrão de sua geração, Ambrose Akinmusire fez um barulho com a sua estreia em 2011 pela Blue Note, e desde então ele continua a determinar o que um trompetista de jazz e compositor deve fazer. Seu mais novo disco é ambicioso, colocando um quarteto de cordas bem arranjado em conversas com instrumentais bruscos e pós-hip-hop, e convidando o rapper Kool A.D. a rasgar versos livres nos ritmos à sua volta.

A matéria acima é uma tradução livre do texto postado no portal do jornal The New York Times em 26 de julho de 2019.

Original: https://www.nytimes.com/2019/07/26/arts/music/blue-note-records-essential-albums.html

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