Passou batido, mas no dia 2
de outubro completou-se 35 anos do lançamento do maravilhoso, e meu preferido,
quarto disco dos Replacements. Para quem não conhece o quarteto da cidade de Minneapolis,
Minnesota, os caras surgiram entre o final dos anos setenta e o começo dos
oitenta. Influenciados por bandas punks como os Ramones, eles tiveram uma
carreira regada a exageros, confusões, bebidas, drogas, mulheres, enfim, o
clichê do rock, que durou até 1990. Vindo de três trabalhos que tinham um som
mais no pé do punk e do hardcore americano, Let
It Be aponta para uma nova direção, na qual definiria o som deles pelos
anos que se viriam.
Gravado em 1984 na própria Minneapolis,
no Blackberry Way Studios, Paul Westerberg, vocalista, guitarrista e principal
compositor dos Mats, deu um passo adiante nesse novo trabalho, deixando um
pouco de lado o som que tinha definido a cara da banda desde a sua formação, mais
pesado, rápido e sem consequências.
Essa nova direção já pode ser
notada na faixa que abre Let It Be.
"I Will Dare" é uma daquelas canções prontas para o rádio, comercial,
pop, com uma levada até country rock em alguns momentos. Acabou se tornando uma
das favoritas dos fãs que conseguiram aceitar que os Replacements não eram
apenas uma banda punk. "Unsatisfied" é outra que segue nessa linha
mais comercial, uma balada com B maior, violões e uma performance vocal de Paul
recheada de emoção. Obviamente eu não posso deixar de citar a música que fecha
o álbum, "Answering Machine". Gravada intencionalmente para sua
namorada, Westerberg canta sobre como é lidar com um relacionamento a distância
através da tecnologia. Com vocais angustiantes, talvez seja uma das minhas
músicas preferidas dos caras.
Com um pouco mais de meia
hora e 11 faixas, o disco também tem seus momentos mais acelerados, claro. Em "Favorite
Thing" o baixo de Tommy Stinson é proeminente, com um ótimo solo do irmão
Bob. Falando dele, esse seja talvez o começo do fim do Stinson mais velho no
conjunto. Bem mais fã dos álbuns anteriores, Bob não queria que os Replacements
seguissem uma linha mais acessível. Dessa forma, sua participação aqui é menor.
Para se ter uma noção, quem toca a guitarra solo em "I Will Dare" é
Peter Buck do R.E.M., tamanho era o desconforto dele com as novas composições
de Paul. Apesar disso, ele encontra momentos para solar brilhantemente, como em
“We're Comin' Out".
Quando foi lançado, muitos
críticos declararam que Let It Be mostrava
um amadurecimento do quarteto. Eles conseguiam ser bem mais do que uma banda de
três acordes e músicas de menos de dois minutos. Mas essa não foi a opinião de
todos, principalmente de alguns fãs. Steve Albini, importante produtor,
vocalista e guitarrista da banda de punk Big Black, na época chegou a externar
seu descontentamento com o quarto disco de Paul e companhia. Disse que antes
ele adorava os caras, mas que agora ele odiava a banda. Certamente essa veia
mais pop não agradou muito fãs “raízes”, porém eu acredito que os Replacements
fizeram uma obra prima, que mistura o lado mais Big Star deles, como também o
lado mais Sex Pistols.
Agora que eu já falei para
você o que eu acho do disco e as músicas que compõem ele, quero contar a
curiosa história por de trás do título do álbum. Quem ainda não reparou, Let It Be também é o nome do último
trabalho de inéditas lançado pelos Beatles em 1970 e de um dos grandes sucessos
na voz de Sir Paul McCartney. Pensado em nomes para o próximo disco, os caras
resolveram nomear ele com a música que tocasse em seguida no rádio. De repente
todos começaram a escutar Macca dizer, “When I find myself in times of trouble,
Mother Mary comes to me...”, pronto, o nome estava decidido. Ainda nessa linha
Beatlemania deles, o quarteto chegou a tirar fotos atravessando uma rua em Minneapolis
para a capa do álbum, porém acabaram ficando com a foto no telhado.
Lado
A
"I Will Dare"
"Favorite Thing"
"We're Comin' Out"
"Tommy Gets His Tonsils Out"
"Androgynous"
"Black Diamond"
Lado
B
"Unsatisfied"
"Seen Your Video"
"Gary's Got a Boner"
"Sixteen Blue"
"Answering
Machine"
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