O
ano de 2019 foi rico para a produção literária no Brasil. Excelentes títulos
chegaram as prateleiras das livrarias nacionais. Livros para todos os gostos.
Talvez isso seja reflexo dos tempos obscuros e retrógrados que estamos
atravessando. Cada vez mais as pessoas parecem precisar de um bom livro para
se ausentarem, ou entenderem a realidade na qual vivemos. Mesmo com um país que
ainda lê pouco, e um governo que parece não ter interesse que isso cresça (por
que será, né?!), eu montei uma singeleza lista de algumas obras que chamaram a minha
atenção durante esses últimos 365 dias.
Ideias para adiar o fim do mundo - Ailton Krenak
Ailton Krenak é uma das principais lideranças indígenas em nosso país. Natural da região do vale do rio Doce, ele sempre dedicou sua vida na luta pelos direitos indígenas. O livro reúne duas conferências e uma entrevista realizadas em Portugal, na qual ele critica a ideia de humanidade separada da natureza. “Humanidade que não reconhece que aquele rio que está em coma é também o nosso avô”, ele defende nessa obra. Simples de ler, Ailton vai fundo em criticar as grandes corporações que iludem a sociedade com iniciativas sustentáveis. Ótima leitura para compreender o pouco que nós, seres humanos, damos de importância para o nosso planeta.
Escravidão – Vol. 1: Do
primeiro leilão de cativos em Portugal até a morte de Zumbi dos Palmares –
Laurentino Gomes
Depois
da aclamada trilogia 1808, 1822 e 1889, no qual Laurentino Gomes conta uma
parte importante da história do Brasil, o escritor e jornalista de 63 anos mais
uma vez embarcou numa série de três livros. O papo agora é a escravidão no país.
O primeiro volume chegou às livrarias neste ano e conta desde o primeiro leilão
de escravos em Portugal, até a morte de Zumbi dos Palmares. Mais uma vez
Laurentino acerta em cheio ao tratar de um assunto tão delicado, mas muito
importante para compreender o Brasil atual, de forma primorosa. A obra é
resultado de seis anos de pesquisas, além de viagens para doze países e três
continentes. Os outros dois volumes devem ser lançados até as vésperas do bicentenário
da Independência Brasileira, em 2022.
A visita de João Gilberto
aos Novos Baianos: Contos - Sérgio Rodrigues
Colunista
da Folha de S. Paulo, Sérgio Rodrigues é autor de um dos melhores livros que
mistura futebol e ficção, “O drible” de 2013. Dessa vez ele narra, de forma
fantasiosa e brilhante, o famoso encontro entre João Gilberto e os Novos
Baianos no começo dos anos setenta. O livro é dividido, igual a um disco de
vinil, em lado A e lado B. Além do conto que dá nome a obra, “A visita de João
Gilberto aos Novos Baianos” é recheado de outras narrativas que transitam entre
o clássico e o experimental, mas sempre com muito bom humor. Fechando o volume,
como uma faixa bônus, temos “Jules Rimet, meu amor”, uma saborosa novela que
foi publicada em e-book no ano de 2014 por conta da Copa do Mundo no Brasil.
Ricardo e Vânia – Chico
Felitti
Chico
Felitti chamou a atenção em 2017 ao escrever uma matéria sobre Ricardo Correa
da Silva, mais conhecido pejorativamente como “Fofão da Augusta”. Durante
quatro meses ele mergulhou na vida de Ricardo. O cara descobriu como um
disputado cabelereiro nos anos setenta e oitenta, acabou com um litro e meio de
silicone no rosto nas ruas da maior metrópole do país. Com a grande repercussão
veio uma descoberta, o maior amor de sua vida. Nessa obra ele conta a história
de Vânia, que um dia já se chamou Vagner, e como foi essa grande paixão entre
os dois. Além disso, Chico narra histórias de outros personagens que fizeram
parte da vida do casal, sempre de forma sincera, clara e, principalmente, sem
preconceitos.
Sobre lutas e lágrimas: Uma biografia de 2018 – Mário Magalhães
Provavelmente o principal livro lançado neste ano. Para quem não conhece o jornalista Mário Magalhães, o cara é o autor da ótima biografia de Carlos Marighella (“Marighella”). São quase 800 páginas contando a trajetória de um dos principais inimigos da ditadura militar. Neste novo livro, Mário faz uma excelente análise sobre a importância do ano de 2018 para a história do nosso país. Inspirado em “1968 – O ano que não terminou”, a obra repassa os principais acontecimentos. Desde a morte covarde de Marielle Franco, até a guinada para a extrema direita com a eleição de Jair Bolsonaro para a presidência da república, essa obra é essencial para tentar entender o que diabos aconteceu no Brasil no ano passado.
Escrito
pelo atual editor de cultura da revista CartaCapital, Jotabê Medeiros lançou
uma ótima biografia sobre um dos caras mais interessantes da nossa música, Raul
Seixas. Mesmo trinta anos após a sua morte (21 de agosto de 1989), o nosso
querido maluco beleza continua conquistando fãs por todo o pais, e de todas as
faixas de idade, além de influenciar diversos artistas contemporâneos. Nesse
novo livro, Jotabê foca principalmente na carreira do artista. A produção dos
discos icônicos, a composição dos maiores hits, a parceria com o escritor Paulo
Coelho, enfim, tudo aquilo que fizeram do baiano Raulzito um dos maiores
artistas do Brasil.
Prólogo, ato, epílogo:
Memórias - Fernanda Montenegro
Fernanda
Montenegro é uma das mais brilhantes atrizes que essa terra de pau-brasil já
produziu. Com 90 anos de idade comemorados neste ano (16 de outubro), ela já
atuou em diversas peças de teatro, novelas e filmes. Em seu livro de memórias,
ela narra em quase 400 páginas sua vida profissional e, também, sua vida
particular. Fernanda no livro fala principalmente da sua grande paixão, o
palco. São várias passagens a respeito de peças de teatro que ela estreou e
participou, principalmente nos anos setenta. Ela também dedica algumas páginas
para falar do premiado filme Central do
Brasil, no qual ela teve a chance de disputar um Oscar de melhor atriz em
1999.
Os Onze: O STF, seus
bastidores e suas crises - Felipe Recondo e Luiz Weber
Se
existe um poder que ganhou destaque nos últimos anos no Brasil, esse poder é o
judiciário. Composto de 11 ministros, o Supremo Tribunal Federal tem como
função institucional fundamental servir como guardião da Constituição Federal
de 1988. Com o escândalo do mensalão durante o primeiro mandato do presidente
Lula, e consequentemente seu julgamento, o STF, que antes era quase
desconhecido da maior parte da população, virou o centro das atenções. Em “Os
Onze”, os jornalistas Felipe Recondo e Luiz Weber narram diversas histórias que
mostram o funcionamento desse importante poder e como os seus integrantes
viraram quase “popstars” no cenário atual político.
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