Rolou neste último domingo
(7) no Audio, zona oeste da cidade de São Paulo, a apresentação dos irmãos
Cavalera (Max e Iggor) em comemoração aos 25 anos do disco “Roots” do
Sepultura. A turnê comemorativa começou no México, no dia 21 de julho, e passou
por Costa Rica, Colômbia, Peru, Chile e no dia 2 desembarcou no Brasil. Além de
São Paulo, a dupla ainda tocou em Brasília, Curitiba, Rio de Janeiro e Ribeirão
Preto, interior de São Paulo. A celebração contou com a presença do guitarrista
do Fear Factory, Dino Cazares, como convidado especial.
Lançado em 1996, o sexto
disco do Sepultura é um dos mais influentes do metal, assim como um dos mais
importantes da carreira da banda. Além de ser pesado e barulhento, como você
poderia esperar que um disco do Sepultura soasse, “Roots” é recheado de
percussão, groove, e totalmente ligado com as raízes da música brasileira. Para
se ter noção de como a banda estava decidida em fazer algo especial, o quarteto
chegou a passar uns dias na aldeia do povo Xavante, localizada nas proximidades
de Canarana, no Mato Grosso, e gravaram uma faixa com os índios, “Itsári”, que
na língua xavante significa “raízes”. “A experiência como um todo foi
alucinante. Ninguém jamais tinha feito algo parecido. Quando voltamos pra casa
pra terminar o álbum, tínhamos consciência de ter feito algo que permaneceria
para sempre com a gente, não importava por quanto tempo vivêssemos,” relembra
Max em sua autobiografia. Outro ponto importante relacionado ao disco é por
conta dele ser o último com Max na banda e, consequentemente, com a formação
clássica do Sepultura – seu irmão Iggor seguiria os passos de Max um pouco mais
tarde e deixaria o grupo em 2006.
Com Sinaya e o Krisium como
bandas de abertura, Max e Iggor adentraram o palco por volta das 21h45 para o
delírio de um Audio lotado de camisetas pretas. Na primeira parte da
apresentação, os irmãos Cavalera seguiram o mesmo script dos outros shows da turnê
“Return To Roots”, tocando o “Roots” de ponta a ponta, de “Roots Bloody Roots”,
passando por “Straighthate” e finalizando com “Dictatorshit”. É interessante
notar que, apesar de 25 anos depois, o disco continua soando fresco, agressivo,
pesado e muito brasileiro. Provavelmente se fosse gravado atualmente ele se
tornaria um clássico definitivo do metal mais uma vez. Além disso, as letras de
Max continuam extremamente atuais, como em “Ambush” (Screaming/For more justice/Amazonia
burns/ Can you hear them?),
essa dedicada ao seringueiro e ativista político Chico Mendes, assassinado em
1988 por grileiros.
Porém, o que tornou essa
primeira parte do show algo muito especial foi a presença do cacique Cipassé
Xavante, da tribo Xavante, no palco. Em 1996 ele foi um dos responsáveis em
intermediar a interação entre o Sepultura e a tribo nas gravações de “Roots”. “Eu
estou representando nesse momento, nessa noite, a terra Indígena Pimentel
Barbosa, no Estado do Mato Grosso. A tribo Xavante”, disse o cacique enquanto
era ovacionado pelo público. Cipassé explicou que atualmente o ser humano está vivendo
um momento muito delicado e é necessário respeitar o próximo, o que gerou um
grito de “Ei Bolsonaro, vai tomar no cú!!!” dos presentes.
“Para isso precisamos
respeitar a vida. Por isso queria chamar vocês com responsabilidade para
preservar o meio ambiente, que é a nossa vida e a nossa casa. Ela representa
como se fosse a nossa vida. Não ficar com a responsabilidade só do povo
indígena. É uma responsabilidade de vocês, uma responsabilidade de cada ser
humano. Então se a gente não cuidar o que gente está vivendo nesse planeta,
daqui 50 anos não existirá nem meio ambiente, nem o ser humano,” finalizou o
cacique, enquanto era ovacionado pelo público mais uma vez. Após agradecer os
irmãos Cavalera, Max disparou: “Cipassé para presidente!”.
Para o bis, mais uma grata surpresa
para o público paulista. Com a introdução de “Raining Blood” do Slayer, Max
chama para o palco Iccaro Cavalera, filho de Iggor, e Alex Camargo, baixista e
vocalista do Krisium, para uma versão assombrosa de “Troops of Doom”, clássico
dos primórdios do Sepultura. Em seguida, a banda mandou um cover de “La Migra”
do Brujeria, banda formada por Dino Cazares no final dos anos 1980. Aqui vale falar
um pouquinho da participação do guitarrista no show. Sempre muito simpático com
o público e sorridente, parece que Dino toca com os irmãos Cavalera há décadas,
a sintonia entre eles é impressionante. Além disso, ele fez jus as partes de
guitarra tocadas originalmente por Andreas Kisser no disco e foi um dos
destaques do show. Para finalizar, a banda tocou mais dois covers,
“Orgasmatron” do Motörhead e “Polícia” dos Titãs, além do clássico “Refuse/Resist”
do disco “Chaos A.D.”, lançado em 1993 pelo Sepultura, e uma versão acelerada
de “Roots Bloody Roots” para encerrar uma noite memorável em São Paulo.
Apesar dos recém completados 53 anos, Max continua uma figura ímpar em cima do palco. Sim, ele não consegue mais gritar como um homem das cavernas como na época em que o “Roots” foi gravado, mas ele ainda continua sendo um dos grandes frontmans do metal e uma figura que você não consegue tirar os olhos, sempre dando 120% nos shows. Já Iggor, que vai completar 52 anos no mês que vem, continua sendo um animal em cima da bateria. Com uma bandeira antifascista no seu kit durante todo o show, o baterista palmeirense mostrou porque se tornou um dos mais influentes no seu instrumento e como um batera de metal pode sair do trivial exigido pelo gênero e inovar de forma brilhante.
“Return To Roots” em São Paulo foi uma celebração de um dos discos mais importantes do metal, assim como da importância dos irmãos Cavalera para a história da música brasileira. Além disso, foi uma mensagem clara e direta para todos os presentes: O FUTURO É INDÍGENA!
Fotos: Leandro Godoi.
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