No dia 4 de janeiro de 2016, o Guns N’ Roses foi anunciado como um dos headliners do tradicional festival de Coachella, que ocorre todo ano no deserto da Califórnia, em dois fins de semana consecutivos de abril. Porém, a grande surpresa nesse anúncio ficou por conta do retorno de dois membros muito importantes da formação original da banda, o guitarrista Slash e o baixista Duff McKagan. Os dois músicos se desligaram do Guns na segunda metade dos anos 1990, ambos descontentes com os rumos que o vocalista Axl Rose queria dar para a banda, e durante muitos anos se especulava sobre a volta de ambos para o grupo.
Após
os shows no festival de Coachella, o grupo entrou em uma turnê mundial chamada
“Not in This Lifetime...Tour”, que passaria em duas ocasiões pelo Brasil,
inclusive uma apresentação na edição de 2017 do festival Rock In Rio. Após uma
pausa forçada por conta da pandemia de COVID-19, a banda voltou à estrada em
2021 e nesse mês de setembro desembarcou pela oitava vez em sua história no
Brasil. Com shows em Manaus (1), Recife (4), Rio de Janeiro (8), Goiânia (11),
Belo Horizonte (13), Ribeirão Preto (16), Florianópolis (18), Curitiba (21),
São Paulo (24) e Porto Alegre (26), essa é a turnê mais longa do grupo em solo
brasileiro, dez shows no total.
Neste
último sábado (24), com os ingressos esgotados, a banda se apresentou na casa
do Palmeiras, o Allianz Parque, região oeste da cidade de São Paulo.
Pontualmente às 20 horas, o Guns subiu ao palco ao som do baixo de Duff e
atacou com “It's So Easy”, segunda faixa do antológico disco de estreia,
“Appetite for Destruction”. O repertório seguiu basicamente com os clássicos,
“Welcome to the Jungle”, “Live and Let Die”, “You Could Be Mine”, “Sweet Child
o' Mine”, “November Rain”, “Knockin' on Heaven's Door” e “Patience”, músicas
que o público sabia de cor a letra e cantou junto com a banda o tempo todo.
Além
dos clássicos, o Guns ainda tocou algumas músicas menos conhecidas do grande
público, como “Better” e “Sorry”, ambas do disco “Chinese Democracy”, e outras
duas do comecinho da carreira da banda, “Reckless Life” e “Shadow of Your
Love”. No meio do show, Duff assumiu os vocais e mandou o cover de “Attitude”,
dos Misfits, e Slash fez o seu tradicional solo de guitarra antes de “Sweet
Child”. Após quase três horas de apresentação, Axl Rose e companhia terminaram
o show com a sempre apoteótica “Paradise City”.
Apesar
de extremamente simpáticos com o público, e de entregarem um show cheio de
energia, o Guns N’ Roses apresentou um pouco mais do mesmo daquilo que rolou em
2016 e 2017, no mesmo Allianz Parque. Cinco anos após a última aparição do
grupo na cidade, o show continua enraizado nos hits e existe pouco espaço para
novidades. Apesar da discografia curta, a banda bem que poderia variar um pouco
mais o setlist e incluir músicas que geralmente não costumam aparecer no
repertório, como “Dead Horse”, “Locomotive”, “You're Crazy”, “So Fine” e “There
Was a Time”, por exemplo. Ao invés disso, a banda prefere tocar “Wichita
Lineman”, do cantor e compositor Jimmy Webb, em todos os shows.
Outro
ponto que chama a atenção é a falta de material novo para divulgar. Desde a
volta de Slash e Duff para o grupo, os rumores de que um álbum de inéditas está
sendo gravado é recorrente. Porém, apenas duas músicas foram lançadas nesse tempo,
“Absurd” e “Hard Skool”, faixas que ficaram de fora do “Chinese Democracy” e
que foram retrabalhadas pela atual formação da banda. O Red Hot Chili Peppers,
outro gigante do rock por exemplo, que anunciou a volta do guitarrista John
Frusciante em 2019, está prestes a lançar o seu segundo disco duplo de inéditas
de 2022 em outubro (!!!). Portanto, duas músicas “inéditas” são muito pouco
para uma banda que tem milhões de fãs pelo mundo e lançou seu último trabalho
de inéditas em 2008, quando George Bush ainda era presidente dos Estados
Unidos.
Mas,
o principal ponto negativo, que talvez mais tenha chamado a atenção do público durante o
show, foi a voz de Axl Rose. O vocalista de 60 anos aproveitou toda a extensão
do palco, tentou fazer as típicas dancinhas dos anos 1980, trocou de jaqueta e
chapéu diversas vezes e realmente pareceu estar se divertindo, dando 100% de
si. Entretanto, sua performance vocal ficou a desejar mais uma vez. Ele tentava
atingir as notas mais altas, não conseguia e o resultando por diversas vezes
beirava o constrangedor, infelizmente. Desde que Axl voltou com a sua versão do
Guns N’ Roses em 2001, a voz se tornou um grande problema e foi apelidada desde
então, de forma pejorativa por alguns fãs, de “voz do Mickey” (em referência ao
personagem Mickey Mouse da Disney).
Já
o seu parceiro de banda, Slash, foi um dos poucos destaques do show de sábado.
Com sua tradicional cartola e a sua icônica guitarra Les Paul, o músico
desfilou riffs e solos históricos, improvisou em músicas como “Rocket Queen” e “Double
Talkin' Jive” e ainda teve tempo de plantar uma bananeira antes de se despedir
do público. Duff, por sua vez, segurou as pontas no baixo e nos vocais de
apoio, e o restante do grupo, formado por Dizzy Reed no piano, Richard Fortus
na guitarra, Frank Ferrer na bateria e Melissa Reese no piano/sintetizadores,
não comprometeram.
Apesar
de um show sem novidades e apostando nos hits de sempre, a apresentação do Guns
N’ Roses em São Paulo, assim como nas outras cidades em que a banda passou pelo
Brasil, continua a atrair o interesse de um público fanático e que possui algum
tipo de memória afetiva com a banda que um dia já foi a mais perigosa do mundo.
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